quinta-feira, 14 de abril de 2011

Aniversarios

Esta entrada está especialmente dedicada ao alumnado que estuda segundo de bacharelato porque, nos últimos tempos, entraron en estrés e, tamén,  porque os aniversarios que vamos referir teñen relación co que andan a estudar nestes días ou estudaron recentemente.
Commemoramos hoxe a proclamación da II República española, nacida hai 80 anos: xa temos poucas fontes directas que nos informen de como viviron ese tempo; contodo, é probábel que aínda coñezades alguén que sexa testemuña viva e vos poida dar unha versión complementaria da que se estuda.
E, nunha das miñas aulas de hoxe (perdoade o personalismo) falamos do monólogo interior, ao estudarmos a Nova Narrativa Galega; unha muller pioneira no uso desta técnica literaria foi Wirginia Woolf, desde cuxa morte pasaron 70 anos. A casualidade levoume a encontrar este fermoso escrito, publicado aquí, e que reproduzo na lingua orixinal porque penso que se pode seguir (se non é así, sempre podemos pasar por aquí):

Há 70 anos, numa dia como o de hoje*, uma mulher ainda jovem, magra, branca, feminil, caminha solitária na margem do rio perto da sua casa na aldeia de Rodmell, em Sussex, onde se tinha refugiado com o seu marido Leonard fugindo aos bombardeamentos alemães sobre Londres. E enquanto vai pisando a areia grossa da margem, vai colhendo com as suas longas mãos de louca tranquila, como se flores fossem, as pedras com que vai enchendo os bolsos do casaco. Desliza, depois, rio adentro, deixando-se abraçar pelas águas profundas do rio, para, finalmente, escapar ao medo. Quem assim entrou no suicídio, com medo de viver, foi Virginia Woolf, a romancista inglesa que gostava de passear nas margens da vida sob um céu sombrio e triste, e que, fosse em Londres, na velha mansão de família no bairro de Bloomsbury, fosse na casa perdida na paisagem verde negrejante de Sussex, num e noutro lugar sempre rodeada de enfermeiras, de malas para partir e regressar, de festas e convidados, escreveu romances, contos, ensaios, cartas e diários, antecipando-se a James Joyce no modo de forjar o monólogo interior e a polifonia de vozes que murmuravam tanto nos textos que escrevia como na sua mente bipolar.Por isso, não ter medo de ler Virginia Woolf, que numa época de moral vitoriana vestia calças de homem, era sufragista, fumava em público cigarros egípcios, dava conferências em círculos operários e, como se isto não bastasse para fazer dela alguém desajustado aos olhos da sociedade, ter, também, mantido uma relação lésbica com a sua amiga Vita Sackville West, poeta e mulher de um lord.O seu fim foi coerente com a sua existência inconformista e radical. Depois de uma noite sem bombardeamentos nazis, o dia 28 de Março amanheceu luminoso, transparente, frio. Antes de sair em direcção ao rio, Virginia ainda roubou à morte as três derradeiras cartas dirigidas a Leonard e à sua irmã Vanessa. Depois, tranquilamente, deixou-se abraçar pelas águas para não mais voltar a ver a claridade do dia.Vinte dias depois, um grupo de crianças haveria de encontrar o seu corpo numa das margens do rio Ouse. Talvez naquele 28 de março, temendo voltar a sofrer uma crise de loucura e não poder suportá-la, a alma de Virginia tenha, finalmente, decido não mais afrontar o inafrontável. Essa realidade intangível que nunca se chegou a compreender nem mesmo através da sua obra.

* A data  que se refere é a da publicación orixinal do artigo, nun 28 de marzo,  aqui

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